quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Coração de Picolé

Desde que nasci tenho esse dom: derreter coraçõezinhos metidos a frios e insensíveis. Se contorcem todos na minha frente, se derretem só de olhar, pingam entrem meus dedos como uma pedrinha de gelo inofensiva. Homem que paga de misterioso é uma delícia... Faz que não quer mas te reverencia toda manhã no box de casa, coloca o rádio alto no banheiro pros vizinhos não ouvirem o grito com seu nome, ficam de pau duro no ônibus, tem insônia com seu cheiro... Acho incrível.

O olhar longe é quase uma súplica: me come. Homem escorregadio, homem peixe... é de comer com as mãos, não usar nunca garfos ou facas, não tirar as espinhas... É de lambuzar os dedos mesmo, sem medo da indigestão. Mas são indigestos, ah isso são... Por isso é de bom grado ter sempre preparado um abacaxi. Um pouco de acidez sempre ajuda e quando você aprende a descascá-los, que poupa deliciosa... Com alguns pingos provamos intermináveis sucos pra tomar tudinho, até o fim.

Homem que não se apaixona sempre agarra na minha rede... pesco milhares mesmo em épocas de acasalamento, quando são expressamente proibidos. Ficam se debatendo até perderem a força. Gosto de ficar olhando... vendo o brilho dos movimentos contra o sol. Gosto de vê-los perdendo o oxigênio quando entro de uma vez em qualquer recinto. Gosto de sentir a boca secando, procurando por água a um raio de 12 milhões de km a minha volta, sempre a minha volta.

Corações de picolé, mãos geladas, olhos vidrados, cheiro de neve, cabelos de orvalho, pele arrepiada, músculos rijos, são todos iguais. Homem com coração de gelo a gente só faz uma coisa: chupa.

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